terça-feira, novembro 24, 2009

Comida Rápida, Comida Lenta

Tenho observado - confesso que há alguns anos - que certos hábitos tão arraigados nas pessoas têm passado por uma transformação no mínimo curiosa, para não dizer interessante. Era comum ouvir de trabalhadores do mundo corporativo (leia-se que desempenham suas funções na área administrativa não operacional) que a hora do almoço era dedicada a um lanche natural feito em casa ou a uma ‘tupperware’ com uma comida caseira.

Até por força de um processo natural de empresas para reduzir custos, o aparelho microondas deixa agora um espaço vazio no pequeno quarto onde agora são armazenados produtos de limpeza e materiais diversos. Diante da impossibilidade de seus colaboradores de trazerem algo refrigerado para comer no serviço, surgem os primeiros restaurantes a quilo. Derivado destes, as chamadas PADOCAS.


Trata-se de estabelecimentos com mesmo ‘layout’ de padarias, com balcões, chapa para a preparação de sanduiches, sucos, pratos prontos e também no sistema de venda a peso. Tradicionalíssimas independente de localização ou classe social de seus freqüentadores, além de um conforto é também uma necessidade. É um lugar onde se pode tomar café da manhã ágil e sem muita variedade, mas a um preço justo. Com a chegada da hora do almoço, atraem com seus temperos os estômagos então vazios, em busca de alimento.

Por me encaixar na categoria descrita no início - e como bom andarilho da região da Vila Olímpia que sou – sempre vou a busca de novas padocas. Sou ávido por observação, nenhum detalhe me escapa. Da variedade até a ambientação (passando ai também por higiene e simpatia dos atendentes, além de preço e qualidade da comida), lanço meus olhos antes de qualquer decisão de saciar minha fome.

Dia desses entrei sozinho em uma dessas não muito longe do trabalho. A comida não era da mais fresca e o ambiente um tanto escuro. Ainda assim resolvi dar uma chance ao estabelecimento. As mesas individuais estavam agrupadas de três em três, o que me obrigou a sentar com pessoas que nunca vi na vida e que riam de suas fofocas no trabalho. No entanto, meus olhos se fixaram a uma mesa logo a minha frente.

Nela, um jovem rapaz aparentando seus vinte e poucos anos, cabelo arrepiado tomado por gel, acompanhado de outros dois colegas, um prato de comida e uma garrafa 2 litros de refrigerante. Eu não tinha dúvidas que ele trabalhava na área administrativa. Mas o detalhe principal que me fez chegar a essa conclusão foi simples: sua ansiedade por comer.
Mexia seu garfo tal qual um rastelo em um jardim outonal: movimentos rápidos, quase em zig-zag, de todos os sentidos rumo ao centro. Foi desse jeito que durante dez minutos que ocupou daquela mesa. A mão esquerda apoiava a cabeça fatigada de tanto pensar. Já a direita fazia o papel de uma batedeira, unindo arroz, feijão e um pouco de farofa em um mesmo ponto, para então deglutir garfadas cheias. Passada essa fase, parecia exausto. Levou à boca um copo de refrigerante, fechou os olhos e reclinou-se para trás na cadeira. Comi muito, disse aos colegas.

Se o sanduba natural perdeu seu reinado como predileto, perdeu também seu mérito de ‘comida rápida’. Na nova modalidade, só não é ‘fast’ a preparação da comida. Porque até mesmo comê-la virou uma corrida contra o tempo. Bom apetite.

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